quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Laestadianismo

Lars Levi Laestadius (1800-1861)
     Uma vertente do luteranismo completamente desconhecida no Brasil é o laestadianismo. Podendo ser classificado como uma forma radical de pietismo, o laestadianismo surgiu a partir da pregação de Lars Levi Laestadius (1800-1861) entre a população Sami, um grupo étnico localizado no norte da Suécia, Noruega e Finlândia, nas proximidades do Ártico.O povo Sami praticava anteriormente uma forma de shamanismo, mas foi forçado a converter-se no século 18 à religião oficial da Suécia, o cristianismo, passando a fazer parte da Igreja Luterana estatal. Essa conversão forçada resultou na perda dos valores tradicionais da etnia, disseminação do alcoolismo e numa religiosidade meramente formal e indiferente.
     Laestadius, um pastor luterano, teve um despertamento espiritual através do contato com uma paroquiana, Milla Clementsdotter of Föllinge, conhecida como Lapp Mary. Acredita-se que Lapp Mary fazia parte de um movimento cristão de avivamento com influências do pietismo e dos Irmãos Morávios. A partir de então, a pregação de Laestadius teria se tornado “viva”, resultando na conversão de centenas de pessoas. Essas pessoas passaram a adotar um moralismo rigoroso, praticando a completa abstenção do álcool e de diversões “mundanas”. Nem todos gostaram das novas ênfases trazidas por Laestadius. Em 1853, quando Laestadius era pastor em Pajala, o bispo local decidiu que a igreja teria cultos em horários diferentes para os adeptos das ideias de Laestadius. 
     Embora nunca tenham se separado oficialmente da Igreja Luterana da Suécia, os laestadianos mantiveram suas reuniões em separado e ideias bastante peculiares. O movimento disseminou-se rapidamente entre a população Sami na Suécia, Noruega e Finlândia. Nos Estados Unidos, imigrantes escandinavos fundaram Igrejas Luteranas Laestadianas. Atualmente, estima-se que existam cerca de 200 mil adeptos do movimento no mundo, a maioria deles na Escandinávia. 
     Uma das peculiaridades do movimento consiste no seu exclusivismo: laestadianos normalmente crêem que são os únicos que possuem uma “fé viva”, enquanto todos os outros cristãos possuem uma “fé morta”. A moralidade é rígida: não assistem televisão ou ouvem rádio, não participam de festas ou ouvem músicas seculares, e acreditam na total separação entre os verdadeiros crentes e os “mundanos”. Como o uso de métodos anticoncepcionais também é proibido, as famílias normalmente são grandes (em contraste com o restante da população escandinava, onde a taxa de fertilidade é baixa). Quando um membro do movimento abandona a fé, a comunidade e a família são orientadas a cortar relações com ele (uma prática conhecida como “banimento”). 
     Uma questão que desperta curiosidade é o fato de um movimento religioso tão rígido e exclusivista como o laestadianismo permanecer vinculado às Igrejas Luteranas escandinavas, relativamente liberais e secularizadas. Porque os laestadianos não formaram sua própria igreja? A resposta provável para essa questão é que isso simplesmente não era uma opção, pois na época do surgimento do grupo a Igreja Luterana era a religião oficial da Suécia, e a membresia era obrigatória para toda a população. Assim, os laestadianos adotaram o mesmo formato que outros grupos pietistas espalhados pela Europa: mantiveram a membresia na Igreja oficial, onde recebiam os sacramentos, mas nutriam sua vida espiritual em reuniões paralelas, em casas ou salões.
     Atualmente, o movimento laestadiano encontra-se dividido em grupos mais e menos radicais. A maioria, que reside nos países escandinavos, permanece ligada formalmente à Igreja Luterana. Nos Estados Unidos, foram fundadas Igrejas Luteranas Laestadianas, que mantém comunhão com os laestadianos escandinavos. Os laestadianos em todo o mundo aceitam as doutrinas do Livro de Concórdia como exposição correta da doutrina cristã, e prezam especialmente os catecismos de Lutero. Abaixo, segue um vídeo com imagens de um dos encontros dos laestadianos realizados tradicionalmente na Finlândia: