sábado, 7 de julho de 2018

A Ressurreição

     O ser humano sempre se perguntou se há vida após a morte. Mais do que isso, diversas filosofias e religiões especularam sobre o porquê da existência da morte e sobre o que acontece quando alguém morre. A fé cristã, baseada nas Escrituras, aponta para uma esperança que vai além da vida que vivemos agora. No entanto, ela também nos fala sobre a seriedade da morte.

      Na narrativa bíblica, a morte entra na história do ser humano por causa da desobediência do primeiro casal, Adão e Eva (Gn 3). Desde então, ela vem sendo transmitida hereditariamente a cada geração. O ditado popular diz que a maior certeza que temos é a morte. Toda pessoa que nasce, já tem uma sentença de morte. Apesar de nossa curiosidade sobre o que acontece depois da morte, outro ditado popular diz que não temos como saber porque "ninguém jamais voltou do outro lado". Será?

      A pergunta sobre o significado da morte e sobre a vida após a morte depende da visão de mundo que temos: qual é a natureza do ser humano e de nossa vida? Para a fé cristã, a vida não é simplesmente obra do acaso. Ela é uma dádiva de Deus. E dentre todos os seres vivos, os seres humanos foram criados à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.27), com a tarefa de povoar a Terra, cuidar e cultivar a criação. Isso mostra que o ser humano não tem uma essência eterna. Mas Deus, por sua bondade e misericórdia, lhe preserva a vida por determinado tempo. A narrativa da criação em Gênesis ensina que havia uma árvore da vida plantada no jardim onde Adão e Eva viviam, mas após a sua desobediência, o ser humano perdeu acesso a essa árvore e a morte se tornou uma constante em nossa história (Gn 3.24).

      No entanto, a Bíblia fala de um ser humano que voltou da morte, para viver um tipo de vida totalmente diferente: Jesus Cristo! Mesmo entre os historiadores mais céticos, há pouca dúvida de que o homem chamado Jesus foi morto por crucificação em Jerusalém no século 1. No entanto, isso não explica porque, ainda assim, seus seguidores levaram sua mensagem adiante, muitas vezes colocando suas próprias vidas em risco.
     Os quatro evangelhos e o apóstolo Paulo mencionam muitas testemunhas que viram Jesus Cristo ressuscitado. O apóstolo Paulo chega a mencionar mais de 500 pessoas (em 1ª Co 15.3-8), muitas das quais ainda estavam vivas na época de seu escrito, e que viram Cristo ressuscitado. Numa época em que o cristianismo era perseguido, tanto pelos judeus quanto pelo Império Romano, é difícil imaginar que tantas pessoas tivessem colocado suas vidas em risco se não tivessem a convicção de que Cristo realmente ressuscitou e estava vivo!

      A ressurreição de Cristo foi física, corpórea. Por esse motivo, seu túmulo foi encontrado vazio. Os discípulos não viram apenas um fantasma, mas viram Cristo ressuscitado. O capítulo 21 do evangelho de João narra inclusive uma refeição que Jesus ressuscitado teve com os discípulos. No entanto, o corpo de Jesus ressurreto não era exatamente da mesma natureza que antes da ressurreição. Ele não tinha limitações físicas. O evangelho de João também narra que Cristo apareceu no meio dos discípulos em uma reunião em que estavam a portas fechadas (Jo 20.19). As narrativas da ressurreição mostram que os discípulos muitas vezes tinham até certa dificuldade de reconhecê-lo.

      A fé na ressurreição de Cristo não é algo apenas opcional no cristianismo. Como o apóstolo Paulo afirma, se Cristo não ressuscitou verdadeiramente, então nossa fé é vã (1 Co 15.14). No capítulo 15 da primeira carta aos Coríntios, Paulo discorre sobre muitas controvérsias e dúvidas que as pessoas tinham a respeito do tema da ressurreição. Ele afirma que Cristo foi o primeiro a ressuscitar, mas que em sua volta ressuscitará todos os mortos. Paulo usa a metáfora da semente para explicar como serão nossos corpos ressurretos: assim como a semente é diferente da planta crescida, nosso corpo atual é diferente do corpo que teremos na ressurreição (1ª Co 15.35-44). Trata-se de algo difícil de compreender, mas para a fé é suficiente saber que nossa esperança não se limita só a essa vida. Jesus Cristo afirmou: "Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia." (Jo 6.40).



Existe comunicação entre os mortos e os vivos?



      Não. Em Ec 9.5-6, afirma-se que os mortos não têm conhecimento e nem participação no que acontece entre os vivos. A Bíblia também proíbe definitivamente consultar a médiuns, ou seja, pessoas que dizem se comunicar com mortos (Dt 18.10-12). Algumas pessoas alegam que ao conversar com médiuns ou mesmo receberem cartas supostamente ditadas por entes queridos falecidos (psicografia), receberam mensagens que só poderiam mesmo provir da pessoa morta. Mas isso é um engano. Quem já caiu no golpe do "falso sequestro" por telefone sabe como os golpistas, que se fazem passar por um ente querido, são capazes de mencionar informações que aparentemente só aquela pessoa poderia ter. Mas isso acontece porque, mesmo sem perceber, ao conversar com essa pessoa acabamos transmitindo insconscientemente algumas informações. Outras são tão genéricas que poderiam se aplicar a qualquer pessoa.



E quanto à reencarnação? Uma alma pode voltar em um corpo diferente?



      A Bíblia nega que uma alma possa reencarnar em um corpo diferente. Cada pessoa morre apenas uma vez (Hb 9.27). O ser humano não tem uma alma que possa ser separada de seu corpo. A palavra alma é usada na Bíblia para designar o ser humano como um todo: seu corpo, mente, personalidade, etc. (Gn 2.7). E o espírito é o fôlego de vida que existe no ser humano. A crença na reencarnação provém de antigas religiões gregas e orientais, e por esse motivo, foi muito difundida em nossa cultura. Mas ela não tem sustentação em nenhuma parte da Bíblia, nem nos ensinamentos de Jesus Cristo.



O que acontece com a pessoa no período após a morte e antes da ressurreição?



      A Bíblia fala muito pouco a respeito do estado das pessoas entre a morte e a ressurreição. Descreve-se metaforicamente a situação da pessoa morta como um adormecer (Lc 8.52; 1ª Co 15.6). Por outro lado, afirma-se que a pessoa que morre na fé em Cristo já está na presença dele (2ª Co 5.6). Isso acontece porque para Deus (Sl 90.4; 2ª Pe 3.8) e para a pessoa falecida, a passagem cronológica do tempo como o sentimos é irrelevante. Por isso, podemos afirmar que a pessoa morta já está na presença de Deus, ainda que de nosso ponto de vista, ela esteja aguardando a ressurreição no dia final e não haja nenhuma comunicação entre nós e ela. Essa situação é difícil de ser compreendida, mas o que fica muito claro na Bíblia é que não existem "almas penadas", ou seja, pessoas desencarnadas habitando nosso mundo e se comunicando conosco.



E quanto ao purgatório?



      A Bíblia fala de apenas dois destinos para o ser humano: a eterna comunhão com Deus ou a eterna separação de Deus. Pelo pecado, todos os seres humanos estão separados de Deus (Rm 3.23). Mas pela graça e bondade de Deus, a salvação é ofertada a todos, por Jesus Cristo. A fé, que é um dom de Deus e não um mérito da pessoa, é o meio pelo qual Deus salva as pessoas. Portanto, a salvação não pode ser atingida por boas obras ou por "evolução espiritual". A crença no purgatório, um estado intermediário em que a alma paga por seus pecados antes de poder entrar no céu, não tem sustentação na Bíblia. Além disso, ela é incompatível com a graça de Deus, pois Jesus Cristo oferece perdão gratuito, mediante arrependimento e fé, e não por castigo.



Como devemos nos consolar a respeito de nossos entes queridos que já morreram?



      Confiar na justiça e misericórdia de Deus. Guardar a sua memória, especialmente das coisas boas que vivemos juntos, sendo gratos a Deus pelo tempo que tivemos com a pessoa. Perdoar eventuais mágoas e desentendimentos. Se fizemos algum mal a pessoa, pedir perdão a Deus e não ficar carregando a culpa. Crer que a morte, apesar de ser algo doloroso e que traz sofrimento e separação, foi enfrentada pelo próprio Deus na pessoa de Jesus Cristo. E lembrar que, segundo a Bíblia, nem mesmo a morte pode nos separar do amor de Deus (Rm 8.38-39).